Blog categories

Comments

TRTs debatem a promoção da felicidade interna para aperfeiçoar clima organizacional e resultados

Em 1972 um pequeno pais da Ásia conhecido como Butão chamou a atenção da Organização das Nações Unidas (ONU) ao propor uma nova forma de medir o desenvolvimento. Ao invés dos cálculos numéricos que resultam no já conhecido Produto Interno Bruto (PIB), os governantes sugeriram como alternativa melhor o Felicidade Interna Bruta (FIB), que considera mais do que apena a frieza dos dados resultantes das trocas comerciais, mas também aspectos ligados ao bem-estar da população e sustentabilidade.

Quase 50 anos após sua proposição, apenas o Butão o implantou efetivamente. Todavia, outras nações começam a caminhar nesse sentido, instituindo índices que possam complementar o PIB ao medir o bem-estar social. É o caso da França, do Reino Unido, dos Estados Unidos (EUA), da Austrália e da Finlândia.

A preocupação com o bem-estar das pessoas também ganhou corpo nos últimos anos nas organizações, servindo de novo paradigma no relacionamento entre trabalhadores e empresas.

Esse novo cenário foi tema da palestra “Felicidade na Revolução 4.0”, ministrada pela pesquisadora Carla Furtado na edição de maio do Coleprecor, Colégio que congrega Presidentes e Corregedores dos Tribunais do Trabalho do país e no qual se debate temas de interesse comum e boas práticas.

Carla Furtado falou como a busca pela felicidade pode contribuir com as organizações. Ela destacou que alguns órgãos públicos do país têm investido neste aspecto como forma de melhorar o ambiente interno, reduzir o número de casos de afastamentos para tratamento de doenças mentais e aperfeiçoar a prestação de serviços à população.

Ações nesse sentido, segundo a pesquisadora, são importantes, em especial devido aos problemas cada vez mais vivenciados no dia a dia.

Segundo Furtado, em tempos de transformação digital, o que mais adoece e mata as pessoas não é mais o acidente de trabalho, mas problemas mentais, como indicou estudo produzido pelo professor Jeffrey Pfeiffer, da Universidade de Stanford, que estimou em 300 bilhões os custos disso somente nos Estados Unidos.

No mesmo sentido, relatório divulgado em 2018 pelo Conselho Global de Felicidade (Global Happiness Council, na sigla em Inglês), rede que congrega pesquisadores das mais diversas áreas, apontou que aproximadamente 500 milhões de pessoas no mundo sofrem com depressão ou ansiedade, dado esse que não considera as subnotificações.

Entorno de 15% das pessoas dormem mal, ou tem dificuldades em dormir, apontou Carla Furtado. “Se não dissermos que isso é problema das empresas, perdemos a noção. Estamos mensurando as coisas de forma erradas”, disse ela, ao comentar outro estudo que relaciona o sono ruim com problemas no coração.

Ela ainda apontou que, nos TRTs, a média de afastamento de magistrados e servidores por transtornos mentais e comportamentais é considerável, ficando em 7,6% e 9,5%, respectivamente.

Todos esses dados demonstram, para a pesquisadora, a necessidade das organizações investirem em medidas que possam promover efetivamente o bem-estar interno, trazendo impactos concretos em várias áreas, inclusive a produtividade. “O que é mais importante: Crescer ou ser feliz? Ser feliz e crescer com valores!”, defendeu Carla. “É um convite para que as organizações olhem para o bem-estar humano como sendo estratégico para alcance de metas”.

Ela alertou, todavia, que a adoção de medidas que promovam a felicidade interna não pode ser focada no aumento da produtividade. “Essa é uma proposta para aumentar engajamento”, disse, acrescentando que o objetivo é buscar o comprometimento das pessoas para que elas contribuíam mais. “Felicidade é a experiência de contentamento e bem-estar combinada à sensação de que a vida tem sentido e vale a pena. Do ponto de vista social, é preciso oferecer condições básicas para que as pessoas experimentem a felicidade”.

Ações no Poder Judiciário

Na fala seguinte à palestra da pesquisadora, o conselheiro do CNJ Valtércio Oliveira, que coordena o Comitê Gestor Nacional de Atenção Integral à Saúde de Magistrados e Servidores do Poder Judiciário, falou sobre as ações que estão sendo promovidas pelo colegiado. Ele destacou os eventos realizados com foco no bem-estar e mesmo sobre as regulamentações que estão sendo feitas pelo Conselho na área. Valtércio destacou que a depressão é o mal do século, doença que impacta também os tribunais, que precisam lidar cada vez mais com magistrados e servidores afastados para tratamento.